“Moral Combat” não é um livro que irá trazer novas informações sobre a Segunda Guerra Mundial. Mas ele reajusta de forma salutar algumas idéias que têm sido formadas nestes tempos de moralidade cinzenta, ignorante das verdades que todos conheciam em épocas mais próximas da guerra. Michael Burleigh trata do conflito nos termos totalizantes que faziam sentido na década de 1940, mas que se perderam em momento mais recente: havia um lado certo e bom, outro torpe e perverso. O lado bom precisou sacrificar seus princípios para derrotar o adversário, que era indiferente ao apaziguamento e ao diálogo, e que entendia a guerra como um instrumento de renovação e purificação social e espiritual.
Por incrível que pareça, hoje em dia é preciso explicar que o apaziguamento de Neville Chamberlain não surgiu de pusilanimidade, mas do espectro tenebroso da então recente Primeira Guerra Mundial – Burleigh pode não revelar grandes novidades, mas é útil a informação contida no livro de que o primo e melhor amigo do Primeiro Ministro foi um dentre as centenas de milhares de britânicos esfacelados nas trincheiras da França em 1916. Alguns professores universitários de história e de relações internacionais aqui do Brasil deveriam ler um pouco sobre Verdun e o Somme, se quiserem entender direito a década de 1930.
“O Bem e o Mal” durante a Segunda Guerra é o subtítulo do livro de Burleigh. Os críticos que celebraram refugo do tipo do “Fumaça Humana” parecem viver no tempo pré-1939 em que o Führer alemão ainda era chamado de “Herr Hitler” na imprensa Ocidental, uma incógnita cuja capacidade de matar e destruir era até então desconhecida. Burleigh revela ter escrito o “Moral Combat” como uma resposta direta ao “Fumaça Humana”, mas é uma pena que seu trabalho não tenha merecido a mesma atenção do que a excrescência de Nicholson Baker aqui no Brasil. Mais provável que nossos resenhistas considerem Burleigh um historiador “maniqueísta”, se chegarem a ler a orelha do livro antes de escrever a seu respeito.