Archive for the Filmes Category

John Wayne, where are you?

Posted in É só pena que voa, Filmes, Segunda Guerra Mundial on julho 12, 2011 by ccmaximus

Neste mundo da pós-modernidade todo mundo quer ter uma história triste para contar, elas são especialmente populares em países Ocidentais e seus apêndices. Uma versão bem disseminada fala de um opressor, e ele invariavelmente se parece comigo.

Eu também tenho uma história triste: estou ficando careca, meu joelho esquerdo também está pifando, tenho uma dor de cabeça permanente e uma pilha de contas para pagar!

Mas isso não é nada perto do que o filme “Corações Sujos” quer que você acredite a respeito de como o Brasil oprime e discrimina imigrantes: se formos nos basear neste promo do filme, então coitadinhos dos caras da Shindo Renmei, eles só queriam implantar o Império do Sol Nascente nas colônias japonesas do nosso sertão mas caíram do cavalo, não é mesmo?

Nada demais em um país que acabara de perder 2.000 vidas, entre militares e civis, lutando contra o Eixo.

A sinopse do filme informa que a “colônia japonesa no Brasil foi discriminada e oprimida”. Bom, a colônia japonesa que eu conheço se tornou um dos grupos de imigrantes socialmente mais bem sucedidos no Brasil! Deve haver algo de errado com essa informação sobre “opressão”, ou senão seriam os niseis que estariam por aí hoje em dia pedindo cotas.

Destaque para a forma bestial como o soldado brasileiro é representado – quase leva a concluir que os racistas éramos nós, brasileiros. Bom, já que o assunto hoje foi cinema nacional, está na hora de ligar a TV a cabo e assistir algum filme americano, com sorte está passando “Sands of Iwo Jima”, boa noite.

Diretor de “O Lapa Azul” e “Terceiro Pelotão”

Posted in Filmes, História da FEB, Segunda Guerra Mundial on abril 22, 2011 by ccmaximus

Do site do “Lapa Azul”:

“Está participando de um processo seletivo, promovido pela Agência Nacional do Cinema -ANCINE, o argumento TERCEIRO PELOTÃO, do Diretor Durval Jr.

O projeto vencedor receberá o suporte financeiro para o desenvolvimento do roteiro de um filme de longa-metragem, baseado no argumento apresentado.

A ANCINE divulgará o resultado da seleção até o dia 24 de maio de 2011 (curiosamente o Dia da Infantaria).

O argumento descreve as peripécias de um pelotão brasileiro, durante a II Guerra Mundial, e teve a prestimosa tradução para o italiano feita pelo Sr. Mario Pereira, guardião do Monumento Militar Votivo Brasileiro, em Pistóia (Itália), e a revisão da Major Gauté, do Exército Brasileiro.

Esperamos que a trajetória heróica dos nossos irmãos infantes, da Força Expedicionária Brasileira (FEB), possa, finalmente, chegar às telas dos cinemas.

Quem sabe o cinema nacional realize, após 67 anos, uma produção digna sobre esse episódio tão significativo para a História do Brasil.”

Conhecendo a competente direção do Durval Jr. é evidente que há muita gente torcendo para o sucesso deste novo argumento.

Aguardamos mais informações sobre o filme.

Matéria da Istoé sobre o filme de Vicente Ferraz

Posted in Entrevistas, Filmes, História da FEB, Memórias da FEB, Saiu na imprensa..., Segunda Guerra Mundial on abril 8, 2011 by ccmaximus

http://www.istoe.com.br/reportagens/131116_A+LUTA+DOS+PRACINHAS

A luta dos pracinhas
O filme “A Montanha” mostra as agruras vividas pelos soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial e a integração racial do pelotão
Ivan Claudio

FRIO E QUEDA
O ator Francisco Gaspar como Piauí: as botas nacionais não eram feitas para andar na neve

Nas encostas dos Apeninos, na Itália, o inverno costuma ser rigoroso, com madrugadas cravando temperaturas inferiores a 15 graus negativos. Eis o que diz o ex-pracinha Antonio Amarú, um dos 25 mil soldados brasileiros que lutaram na Campanha da Itália durante a Segunda Guerra Mundial e, portanto, pernoitou bastante no local: “Usava seis blusas de lã por baixo do field jacket americano, um par de luvas de lã e por cima um par de luvas impermeáveis, ou perderia a mobilidade nos dedos.” Seu depoimento poderia ter sido dito pelos atores que passaram sete semanas nas mesmas condições ao filmar o longa-metragem “A Montanha”, o primeiro filme de ficção a tratar da participação da Força Expedicionária Brasileira no conflito, cujas gravações se encerraram na semana passada. Dirigido por Vicente Ferraz, a produção procura ser fiel a histórias de jovens como Amarú, na época com 25 anos. Eles experimentaram o pior inverno do século na região. Da Itália, por telefone, o ator Daniel Oliveira, que se protegeu nas filmagens com duas malhas e duas meias térmicas, teve a exata sensação das agruras enfrentadas pelos soldados brasileiros: “No set a gente usou botas antigas e a ardência provocada pela neve foi imediata. Dá para imaginar a dificuldade deles.”

“Me interessei pelo lado humano do conflito ao
ler os diários e os relatos feitos pelos pracinhas”
Vicente Ferraz, diretor

Oliveira interpreta Guima, um soldado especializado em desarmar minas. No filme, ele faz companhia aos soldados Tenente (Julio Andrade), Piauí (Francisco Gaspar) e Laurindo (Thogun). Vítimas de um ataque de pânico, os quatro se encontravam perdidos e passam a ser considerados desertores. Nessa situação, travam contato – e têm uma relação de quase amizade – com dois outros fugitivos do campo de batalha: o italiano Roberto (Sergio Rubini), da Resistência, e o alemão Jurgen Mayer (Richard Sammel). Segundo Ferraz, esse encontro não está nos livros e nasceu, obviamente, de sua imaginação. “Não tenho a pretensão de reescrever a história”, diz o diretor. O enredo, contudo, é plausível. Depoimentos de pracinhas registram o contato com desertores nazistas e a convivência amistosa com prisioneiros da artilharia germânica. Em “A Montanha”, quem se depara com o alemão Mayer é o soldado Piauí, vivido por Gaspar. Ele se solidariza com o nazista ferido nos pés e o carrega numa bandiola pela neve. “Imagina só, eu com 1,65 metro de altura e 58 kg puxando um alemão de 1,90 metro. Eram cenas muito difíceis, tínhamos que andar com gelo até o joelho.”

COMPANHEIRISMO
Abaixo, os atores Daniel Oliveira (Guima) e Thogun (Laurindo):
convivência entre brancos e negros surpreendeu os americanos

Como pisava pela primeira vez na neve, Gaspar conta que escorregava bastante nas superfícies mais lisas. “As botas usadas pelos pracinhas não eram feitas para andar lá. Nos primeiros dias, levei muitos tombos”, diz. Não só a bota como também o uniforme. Segundo Gaspar, o filme é bem fiel nesse aspecto ao colocar cada ator usando uma farda diferente, todas do Exército americano. O figurino é original e foi alugado de colecionadores. Embora o elenco tenha recebido treinamento de exercício de montanha e técnicas de desmontagem de minas no Batalhão de Engenharia de Pindamonhangaba, a trama foge dos clichês do gênero e não mostra tantos tiros e explosões. “Me interessei mais pelo dia a dia e me afastei do lado perverso da guerra”, afirma Ferraz, que entre os 20 livros consultados incluiu diversos relatos de ex-pracinhas. Para se livrar da servidão à realidade, preferiu nem filmar em Monte Castello e evitar, assim, qualquer referência ao local onde se deram os maiores conflitos entre brasileiros e alemães. “Na preparação, contudo, passamos pela região. Foi para dar um axezinho”, diz Oliveira. Ao visitar uma das pequenas cidades libertadas pelos pracinhas, a equipe encontrou um velhinho que era criança naquela época. Olhando para Thogun, ele se lembrou que foi na guerra que viu um negro pela primeira vez. Livros recentes, como “Barbudos, Sujos e Fatigados”, de Cesar Campiani Maximiano, consultor do filme, mostram que a integração racial do Exército brasileiro chamou a atenção também dos americanos, ainda bastante racistas durante a guerra. Esse é outro detalhe que o filme não se esqueceu de ressaltar.

“The War”, documentário de Ken Burns.

Posted in Filmes, Memórias de Guerra, Segunda Guerra Mundial on julho 7, 2009 by ccmaximus

Demorou, mas consegui assistir ao documentário de Burns sobre a Segunda Guerra Mundial, para os americanos, “A” guerra, ou “the big one.” Burns teve sua excelente série de documentários sobre jazz lançada no Brasil, e não é remota a possibilidade que o filme sobre a guerra também seja comercializado em versão nacional.

É difícil entender os EUA sem conhecer bem o impacto que a participação na guerra teve no país. Em seus filmes, Burns trata de várias experiências formativas dos valores nacionais e identidade americanos: dirigiu, além dos trabalhos sobre jazz e a guerra, outros documentários abordando temas como a Guerra Civil Americana e o baseball.

A premissa do filme é bastante original: o expectador irá conhecer a experiência de guerra americana pela perspectiva de quatro pequenas cidades bem diferentes: Luverne, Minesotta; Sacramento, Califórnia; Mobile, Alabama e Waterbury, Connecticut. Uma cidade do sul, outra do meio-oeste, outra da costa oeste e uma da parte mais tradicional da costa leste dos EUA. Não há apenas depoimentos de veteranos que lutaram no além-mar, mas também de testemunhas que não estavam em idade militar na época da guerra, de esposas de combatentes, de familiares de mortos em combate, de civis americanos presos pelos japoneses, de nipo-americanos e negros discriminados em seu próprio país, de veteranos bastante conhecidos e dos mais anônimos que se pode imaginar.

Todos os relatos dos veteranos (e veteranas) mostrados no filme são dramáticos, mas há três que merecem destaque especial: Paul Fussell, Samuel Hynes e os trechos lidos do livro de E.B. Sledge.

Coincidentemente, os três seguiram carreiras acadêmicas depois da guerra: Fussell e Hynes como professores de literatura e Sledge como biólogo.

Por meio de seus livros, os três veteranos conseguiram transpor a brecha de entendimento da experiência de guerra, que era incompreensível para a parcela da sociedade americana que não deixou o continente para combater na Europa, África ou Ásia.

Em 1989, Fussell, que já havia se tornado célebre com “The Great War and Modern Memory”, publicou “Wartime: understanding and behavior in the Second World War.” Ao analisar a literatura, gíria, padrões de comportamento e valores da geração que lutou na guerra, 0 veterano comandante de pelotão de fuzileiros da 103a. Divisão de Infantaria conseguiu explicar que a guerra não exigiu somente sacrifícios físicos, mas também do bom senso, da inteligência, da tolerância e da verdade – mesmo que a causa tenha sido absolutamente justa, o lado vencedor precisou anular sua humanidade para vencer inimigos brutais.

Hynes, que foi piloto de caça do US Marine Corps, escreveu um brilhante livro sobre a autoridade dos veteranos de guerra como fonte para a compreensão da verdade do combate. É supreedente que um crítico literário como ele consiga superar as costumeiras categorias explicativas da sua área de conhecimento que consideram testemunhos pessoais como “efeito narrativo” ou “representação”. Para Hynes, há uma verdade intrínseca aos relatos de veteranos e ela pode ser encontrada na coerência existente nas percepções suscitadas pela memória.

E.B. Sledge faleceu em 2001, antes que o documentário de Burns fosse produzido. Tanto Fussell como Hynes citam-no em diversos trechos de seus livros. O texto de Sledge é o quintessencial relato do soldado de infantaria que procura expurgar seus demônios por meio da escrita. A edição mais recente tem uma boa introdução do historiador Victor Davis Hanson, adequada para os tempos sombrios de luta contra o fundamentalismo islâmico. Como muitos veteranos da Segunda Guerra, Sledge passou anos distanciado da família, e apesar de uma bem sucedida carreira acadêmica, permanecia atormentado por suas lembranças dos episódios vividos em Peleliu e Okinawa. Seu livro percorre todos os graus de sua experiência na barbárie, desde seus primeiros momentos em seu pelotão do USMC cheio de veteranos da batalha de Cape Gloucester que viviam em um mundo à parte, até sua descida ao inferno de carne putrefata e vermes da invasão do Japão.

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“Novo” documentário sobre o Dia D.

Posted in Filmes on junho 5, 2009 by ccmaximus

6.6.44 – “Novo” porque foi originalmente produzido em 2004, e só lançado no Brasil em 2009. Ultimamente tenho tido pouco interesse em documentários, já que muitos não vão além das principais histórias conhecidas sobre o desembarque. Mas como vi o selo da BBC na caixa, imaginei que pudesse conter cenas interessantes. E sem dúvida, dentre a enxurrada de documentários em DVD atualmente vendidos no Brasil, este é um dos que vale a pena: traz uma dramatização da participação de Robert Capa em Omaha Beach, encenada por um ator muitíssimo parecido com o fotógrafo. Além disso, o documentário traz entrevistas com veteranos como Franz Gockel, um dos metralhadores alemães do Wiederstandnest 62. Gockel aparece em vários documentários não lançados no Brasil, o que faz com que seus depoimentos ainda sejam desconhecidos por aqui. Outras cenas relevantes tratam do destino dos civis franceses que passaram os últimos momentos da ocupação alemã quando os Aliados estavam a poucos quilômetros de liberar várias cidades.

http://www.imdb.com/title/tt0412617/

O documentário traz dois DVDs, um em português e outro com a versão original em inglês. Comprei o meu na

www.livrariacultura.com.br

O link direto é

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/videos/resenha/resenha.asp?nitem=2776010&sid=2011201031152744905887467&k5=22E8708F&uid=

Vá e Veja – finalmente em DVD

Posted in Filmes on novembro 24, 2008 by ccmaximus

vaeveja_capavalendofinalHá algumas semanas topei com o DVD do “Vá e Veja” de Elem Klimov em uma livraria de São Paulo. Só neste ano, eu tinha feito diversas referências ao filme durante aulas, mas infelizmente sem a chance de exibir ao menos algumas seqüências para a classe de história contemporânea. O que se podia fazer era recomendar a procura de alguns trechos no Youtube – um dos quais está sonorizado com a lancinante sinfonia de Henryk Gorécki composta para o Levante de 1944 em Varsóvia. Um dos aspectos mais importantes do filme é que ele trata do genocídio nazista sem abordar os campos de concentração e extermínio – o filme mostra um dos Einsatzgruppen em ação na Bielo-Rússia durante 1943. A ocupação nazista estava em seu segundo ano, e ainda faltariam incontáveis meses para a expulsão dos alemães do território da URSS. Bom, o filme é um violento golpe na cara do espectador. Os integrantes do Einsatzgruppen foram caracterizados com uma verossimilhança assustadora. Sua atuação no extermínio do vilarejo não é metódica, nem indiferente ou profissional. É uma orgia embalada em vodka e MG42. Klimov foi eficaz ao representar o comportamento dos grupos de extermínio nazistas: não se tratou de mostrar os alemães como robôs insensíveis, mas sim evidenciar o prazer extraído em participar dos massacres. E aí o filme se torna um dos mais inquietantes registros sobre a memória da Segunda Guerra nos países que sofreram ocupação nazista, especialmente na Europa oriental. Não que não tenham ocorrido atrocidades na França e Itália ocupadas, mas pensar na perturbadora quantidade de aldeias soviéticas sistematicamente eliminadas pelos Einstazgruppen podem fazer alguém ficar sem dormir por dois ou três dias. O filme termina com um letreiro informativo do total de aldeias massacradas na Bielo-Rússia: 628. Isso sem pensarmos na Rússia, Ucrânia, Lituânia, Estônia…

A cena final é um acerto de contas entre o grupo guerrilheiro do protagonista e alguns sobreviventes do Einsatzgruppen. Os guerrilheiros russos não chegam a queimar os alemães vivos. Basta passá-los pelas armas. O comunismo pode ter sido brutal, mas é um erro equipará-lo à crueldade do nazismo.

Trajetória da FEB é recontada por diretora ítalo-brasileira.

Posted in Filmes on setembro 19, 2008 by ccmaximus

Do press release do filme:

Estréia paulistana do documentário “O Fio Brasileiro”, o primeiro filme italiano sobre a contribuição dos pracinhas para a libertação da Itália durante a Segunda Guerra Mundial acontece no dia 03/06 no Memorial da América Latina

 

São Paulo, 27 de maio de 2008 – O documentário “O Fio Brasileiro” visa reconstruir a trajetória dos 25 mil soldados brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que auxiliaram os Aliados na libertação da Itália das forças de ocupação alemãs. Único filme produzido na Itália até então sobre o tema, percorre com um grupo de veteranos após quase 60 anos os mesmos lugares em que ocorreu o conflito. A viagem se entrelaça com lembranças, fotos, filmes de arquivo e entrevistas para reconstruir as operações bélicas, mas principalmente para demonstrar a ligação emocional e humana que foi criada com a população local.

 

O filme foi escrito e dirigido pela cineasta ítalo-brasileira Marilia Cioni e produzido pela Sociedade Digital Desk de Roma para o canal de televisão History Channel. A projeção acontecerá no contexto da participação de uma delegação de produtores independentes de documentários italianos e da realização da nona edição do TV Fórum Brasil que acontecerá em São Paulo de 3 a 5 de junho.


A delegação italiana, encabeçada por Alessandro Signetto, presidente da doc/it – associazione documentaristi italiani, estará pela primeira vez no Brasil com o intuito de instaurar permanentes relações com os colegas autores e produtores independentes brasileiros.

Spike Lee e a 92.a Divisão de Infantaria.

Posted in Filmes, Textos on setembro 16, 2008 by ccmaximus

A Campanha da Itália nunca foi abordada de forma extensiva pela cinematografia. Com exceção de alguns clássicos de Rosselini, nem mesmo o cinema italiano enfocou o tema da guerra exaustivamente. No cinema americano, os tratamentos dados à guerra na Itália ou foram episódicos (como em “Agonia e Glória” de Sam Fuller), ou se notabilizaram por filmes tão ruins como “Anzio”, realizado no final da década de 60 em co-produção com estúdios italianos e que hoje não pode ser visto sem certo constrangimento – é o tipo de filme que faz o espectador sentir vergonha pelos atores. A ausência da campanha na península italiana das telas de cinema encontra um paralelo interessante na bibliografia disponível sobre a Segunda Guerra. Parece que tanto escritores como diretores de cinema esqueceram que a Itália foi palco de combates por quase dois anos. Tornou-se clichê chamar a campanha da Itália de “a guerra esquecida.”

Óbvio que o interesse de Spike Lee em fazer um filme ambientado na Itália não se deve exatamente ao intuito de explorar aquela campanha pouco lembrada. É que a única divisão de infantaria composta por negros que chegou a travar combate na Segunda Guerra foi enviada para a península italiana. O Exército Americano permaneceu segregado até 1948. A 92.a Divisão de Infantaria foi formada com praças e graduados negros, embora todos os oficais fossem brancos da patente de capitão para cima. Controvérsias circundam o desempenho dessa grande unidade em combate. É certo que o moral da divisão fosse baixo devido à segregação, mas mesmo assim houve inúmeros casos de bravura individual observados na tropa de soldados negros.

Mas a folha de combate da 92.a não é a preocupação de Spike Lee. O diretor andou aparecendo na imprensa devido às críticas feitas a Clint Eastwood, que segundo Lee “não inclui soldados negros em seus filmes sobre Iwo Jima.” De fato,  nenhum dos homens que hasteou a bandeira no Monte Suribachi era negro, e o segundo filme de Eastwood trata do Exército Japonês…

Mas enquanto a “discriminação positiva” não chega às telas, é bom lembrar que Eastwood preocupou-se em ser historicamente correto nesses aspectos, embora tenha tomado bastante liberdade com a maneira que retratou alguns dos personagens principais.

Eu não li o livro no qual Lee se baseou para a produção do filme, embora conheça razoavelmente bem a história da 92.a Divisão. Pelo fato de ser segregada, essa unidade impressionou bastante os soldados brasileiros que com ela tiveram contato na Itália, mas não pela eficácia de seu emprego em combate. De forma geral, os veteranos da FEB não guardaram boas impressões da 92.a, apesar das opiniões amplamente positivas referentes aos demais contatos com grandes unidades americanas. O que deixou marcas na memória dos brasileiros foi justamente o fato de os americanos brancos e negros não lutarem juntos nos mesmos pelotões. Boa parte dos soldados americanos brancos era favorável à integração, mas alguns comandantes ainda resistiam à extinção de unidades como a 92.a e à introdução de seus soldados nas divisões “normais” do Exército. As primeiras experiências de unidades integradas ocorreram ainda no ano de 1945, mas no Noroeste da Europa, após vários soldados negros (que naquele teatro de operações atuavam em tropas de serviços e logística) se oferecerem como voluntários para preencher os claros causados em combate. Pelotões de soldados negros e brancos foram criados e entraram em ação na Alemanha, exercendo suas funções de forma altamente satisfatória. Mas na Itália, teatro de operações onde a segregação persistiu, o desempenho das unidades segregadas continuou abaixo do rendimento médio das demais divisões de infantaria.

“Miracle at St. Anna” será lançado nos EUA no dia 26 de setembro. A data de lançamento no Brasil ainda não foi divulgada. Um trailer do filme pode ser visto aqui: http://movies.yahoo.com/movie/1809947151/trailer