Arquivo para dezembro, 2008

Sobre o fechamento da ANVFEB.

Posted in História da FEB, Memórias da FEB on dezembro 30, 2008 by ccmaximus

Desde seu surgimento a ANVFEB – Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira – propunha-se a congregar exclusivamente os participantes da Campanha da Itália, ao contrário das várias associações de ex-combatentes que incluíam ex-membros das forças armadas que, durante a guerra, tinham se ocupado da defesa do litoral. A principal causa da dissidência foi a caótica situação jurídica que fez com que os homens que tinham se arriscado cruzando o Atlântico fossem equiparados a vigias de pontes e estivadores.

No momento da criação de suas associações, os veteranos estavam cientes que seus esforços teriam uma duração já de antemão prevista: as entidades de defesa de classe de ex-combatentes (entendidos aqui como aqueles que realmente combateram) só iriam durar enquanto os antigos membros da FEB continuassem vivos e em condições de manter as atividades.

Essa preocupação com o fim das associações submetida à condição dos veteranos como “uma classe em extinção” já se manifestava bem antes do triste descalabro ocorrido com a sede da ANVFEB atingir timidamente a imprensa, de um ou dois anos para cá. Os jornais, informativos e periódicos publicados pelas associações existentes pelo Brasil afora já nos anos 70, 80 e especialmente 90 faziam menção aos prognósticos futuros. Com a concessão de pensões aos veteranos da FEB que foi garantida pela Constituição de 1988, as associações nacionais deixaram de lado o papel que até então desempenhavam como entidades assistencialistas e passaram a atuar primordialmente como divulgadoras da memória e história da FEB.

O desapontamento com o esquecimento da participação brasileira na guerra foi constante desde o retorno dos primeiros contingentes de expedicionários. Nas décadas de 50 e 60 eram comuns reportagens sobre as péssimas condições de vida pelas quais passavam alguns veteranos. Entre os grupos de veteranos, os esforços de garantir assistência e reintegração aos companheiros mais necessitados sobrepuseram-se à preocupação com a memória. Naquele momento, era mais importante garantir as mínimas condições de sobrevivência aos mutilados e neuróticos de guerra do que consagrar a lembrança da atuação da FEB.

A diminuição do problema assistencial – tenha sido pela chegada do auxílio ou desaparecimento físico da maior parte dos “problemáticos” – cedeu lugar à atuação mais eminente das associações como espaços de preservação e divulgação da memória expedicionária. Sempre cientes do esquecimento coletivo sobre a participação brasileira na guerra, os próprios veteranos chamaram a si a responsabilidade por incutir o conhecimento sobre sua experiência na Itália. Assim, muitas associações cuidaram de organizar pequenos museus reunindo artefatos e imagens que na maioria das vezes eram doados pelos próprios veteranos. Na cidade de São Paulo, dos três monumentos evocativos da FEB, o único que atualmente recebe manutenção foi erigido graças aos esforços da própria associação, depois de uma exaustiva batalha burocrática contra a prefeitura e moradores do bairro do Ibirapuera. “Um monumento de guerra poderá desvalorizar alguns imóveis”, argumentou-se.

Qualquer país que preza pela educação de seus jovens dispõe de complexos museológicos integrados ao sistema escolar. Esses museus são parte essencial da experiência formativa dos alunos, e os melhores costumam ser bons o suficiente para interessar desde o leigo, o aluno de ensino fundamental e médio e até o aficcionado e especialista. E em qualquer país decente, há um principal responsável pela educação básica: o Estado. Os museus montados por veteranos tentavam preencher o vácuo da indiferença oficial, desde os mais incipientes até os de médio porte como o de Curitiba. O desleixo governamental arrastou-se durante o segundo período Vargas, passou pelos governos militares e manteve-se de 1985 em diante. Em 1960 houve o traslado dos restos mortais até então sepultados em Pistóia, que hoje repousam no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial. O triste é que poucos se dão conta do significado daquele complexo monumental. E o próprio monumento e mausoléu ficaram abandonados por longos anos, como puderam constatar visitantes que testemunharam túmulos rachados e esqueletos à mostra. Mesmo que o MNMSGM seja o último reduto de resistência oficial da memória da FEB, o Rio de Janeiro não foi a única cidade a enviar seus filhos para a guerra.

Quem sabe onde fica o monumento da FEB em São Paulo? Onde adquirir conhecimento sobre o assunto nas outras capitais do Brasil? Se de fato o museu da ANVFEB fechar, ele perece de acordo com o cálculo dos veteranos: durou tanto quanto o longo retorno para casa e a conseqüente guerra combatida contra o esquecimento e o descaso.

Crise no Oriente Médio.

Posted in Guerra no Mundo Contemporâneo on dezembro 29, 2008 by ccmaximus

Duas boas análises sobre a atual crise:

http://abuaardvark.typepad.com/

http://www.prospectsforpeace.com/2008/12/what_next_on_gazaisrael_and_wh.html

O fim da ANVFEB, depois de 45 anos?

Posted in História da FEB, Memórias da FEB, Saiu na imprensa... on dezembro 29, 2008 by ccmaximus

Museu da FEB Será Fechado
(Rio de Janeiro)
Matéria divulgada no Jornal “Correio Brasiliense ”
em 28 de dezembro de 2008.

Pracinhas brasileiros que foram à Segunda Guerra Mundial não conseguem mais sustentar a sede da associação. Com o encerramento das atividades, boa parte da história brasileira pode ser perdida.

Reportagem: Edson Luiz

Não adiantaram os esforços dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que tentaram por todos os meios manter ativa a sede da associação que mantêm no Rio de Janeiro. A partir de 1º de janeiro, a entidade vai fechar suas portas por falta de recursos para a manutenção e pagamento de contas. Conseqüentemente, o Museu da FEB, um dos mais completos do país, também cessará suas atividades. Em reunião realizada esta semana, os veteranos decidiram deixar o local, onde estavam há vários anos e onde guardavam as recordações da Segunda Guerra Mundial.

“A duras penas, conseguimos angariar o interesse da Presidência da República, da Vice-Presidência e do Ministério da Defesa por nossa associação, mas isso tem resultado, somente, em seguidas manifestações de boas intenções a nosso respeito e, lamentavelmente, é comprovável que o inferno é por elas (as boas intenções) assoalhado”, assinalam os veteranos em uma carta enviada para os associados e colaboradores. Segundo a entidade, a crise econômica internacional colocou um ponto final nas pretensões dos pracinhas. Não há dinheiro nem mesmo para postar cartas para os sócios.

Localizada no bairro da Lapa, no Rio, a Casa da FEB, como é chamada a sede da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira, foi inaugurada em 1976 pelo então presidente Ernesto Geisel. Hoje, o prédio de cinco andares não pode mais funcionar e as promessas de um novo local para a construção de novas instalações nunca se concretizaram. Nem mesmo os apelos de um veterano que chegou a abordar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma cerimônia no Itamaraty deu resultado. Com oito funcionários e apenas 10% do quadro de associados original, a entidade manterá aberta apenas a portaria, para receber as contas que continuam chegando. Os oito funcionários serão dispensados.

Mausoléu
Hoje, a única ajuda, além de doações de simpatizantes e das mensalidades dos sócios, é da Diretoria de Assuntos Culturais do Comando do Exército, que envia soldados para fazer a limpeza diária do local e do Mausoléu dos Pracinhas, localizado no Cemitério São João Batista, onde estão enterrados 600 veteranos, incluindo o marechal Mascarenhas de Moraes, comandante das tropas brasileiras na Itália. “A maioria dos dirigentes tem até mesmo ultrapassado o limite de suas possibilidades”, afirmou o presidente da associação, coronel Hélio Mendes, em carta aos associados. “Todos mantêm firmes suas esperanças de continuidade da associação e guardam sua fé nos destinos da pátria”, acrescenta Mendes.

Em agosto, o Correio mostrou a trajetória dos pracinhas brasileiros nos campos de batalha da Itália, quando enfrentaram os inimigos alemães sem ter até condições físicas para tal. Além disso, a reportagem abordou a situação atual dos 3 mil veteranos que ainda estão vivos, com idade superior a 80 anos. Somente este ano, pelo menos cinco morreram, incluindo a enfermeira Aracy Arnaud Sampaio, que foi enviada para a Segunda Guerra junto com outras 72 mulheres e morava em Taguatinga.

“Todos mantêm firmes suas esperanças de continuidade da associação e guardam sua fé nos destinos da pátria”

Coronel Hélio Mendes

Presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB

Página do US Holocaust Memorial Museum em português.

Posted in Textos on dezembro 26, 2008 by ccmaximus

http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese/

Margaret Bourke-White e a Campanha da Itália.

Posted in Textos on dezembro 25, 2008 by ccmaximus

http://images.google.com/images?ndsp=18&hl=pt-BR&q=Margaret+Bourke-White+5th+army+source:life&start=0&sa=N

O link acima conduz a uma seleção de fotos dos arquivos da revista Life. As imagens foram feitas por Bourke-White, que acompanhou a famosa visita dos congressistas americanos ao setor do 5.o Exército em 1945. É certo que essas fotos estão entre os mais significativos registros iconográficos da Campanha da Itália.

aa67cawwo8nscay4peleca6a4v1oca9y2zgkca8lzfudca62zhkgcapbryi2cadpytv5cajvzo6vcat1cbmwca6y3bf0caqevmqpca98ofhoca0d1z0gcafyftdncaqhccxccaufyfj4caxpfr54

Monte Castelo – ou “Castello”? Ou “Morro do Castelo”?

Posted in Textos on dezembro 15, 2008 by ccmaximus

Alguns leitores devem ter notado que eu opto pela grafia italiana da palavra: “Castello”, com dois “l”. Quando precisavam escrever o nome da elevação, os veteranos da FEB variavam entre a grafia italiana e a de nosso idioma, embora na documentação oficial de época a alternativa nacional seja predominante. Um detalhe interessante é que no 11.o RI o oficial responsável pela escrita dos relatórios utilizava o denominativo de “Morro do Castelo”, no lugar de “Monte Castelo”. Podia ser o hábito de se referir a uma conhecida elevação da então Capital Federal? Talvez sim.

Aquela montanha de cerca de 900 metros recebeu o nome que se tornou famoso no Brasil devido a um castelo erigido no século XIII. Antes, os habitantes da região se referiam à elevação como “Monte Leone”. É curioso que sete séculos depois, os soldados brasileiros do “Leão” tenham-no conquistado dos alemães.

MESA REDONDA HISTÓRIA ORAL E MILITARES

Posted in História da FEB, Memórias da FEB, Memórias de Guerra, Novas Dimensões da História Militar, Segunda Guerra Mundial on dezembro 2, 2008 by ccmaximus

Dia 5 de dezembro às 16 horas, Antiga Biblioteca

 

Coordenação:
Juniele Rabelo de Almeida (NEHO-USP)

 

 

ENTREVISTANDO EX-COMBATENTES: MEMÓRIAS DE UMA GUERRA QUE NUNCA ACABOU

FRANCISCO CÉSAR ALVES FERRAZ (Professor da Universidade Estadual de Londrina / UEL-PR).

 

Resumo: O objetivo desta apresentação é colocar em discussão alguns problemas teóricos e práticos da história oral, no estudo da construção social das memórias dos ex-combatentes brasileiros, que lutaram na Segunda Guerra Mundial, compondo a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Após as festas do retorno e os primeiros meses de vida pós-guerra, a grande maioria dos veteranos brasileiros foi sendo lentamente esquecida, seja pelas autoridades governamentais, seja pela sociedade não-combatente, seja pelas diversas experiências de construção de memória social. Assim, neste grupo social, emergem, por um lado, racionalizações e composições de memória conscientes do esquecimento concreto e material, expressado nas dificuldades de reintegração social e profissional dos veteranos, e por outro lado, seu paralelo nas variadas construções memorialísticas sobre a FEB e o papel da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, que evidenciam tensas relações com a memória histórica sobre o tema, construída fora do grupo dos veteranos e seus familiares.

 

OS VETERANOS DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA E SUAS RECORDAÇÕES DA CAMPANHA

CESAR CAMPIANI MAXIMIANO (Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul / UFMS)

 Resumo: As entrevistas com veteranos brasileiros da Segunda Guerra Mundial mostraram-se fonte de informações até então não disponíveis em nenhuma outra documentação existente sobre nossa participação no conflito. Entretanto, dada a natureza da experiência vivida, as tentativas de aproximação e obtenção de relatos de depoentes em muitos casos eram recebidas com relutância. Um problema adicional que se interpôs entre os pesquisadores e seus depoentes veteranos era o receio dos últimos em contradizerem as narrativas oficialmente ratificadas. Apesar das dificuldades próprias da recordação dos eventos de extrema violência vivenciados na guerra, houve um número de expedicionários da FEB que concordou em colaborar com as entrevistas, proporcionando uma versão da experiência de campanha muito mais vasta e multifacetada do que as até então disponíveis antes do emprego dos métodos de história oral.

 

A TRAJETÓRIA DA HISTÓRIA ORAL NA MARINHA BRASILEIRA

DANIEL MARTINS GUSMÃO (Coordenador do Projeto Memória da Marinha do Brasil, Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha / DPHDM-RJ).

 

Resumo: No âmbito da Marinha do Brasil, a organização militar que tem por propósito contribuir para o estudo, a pesquisa e a divulgação da História Naval Brasileira, bem como a conservação da documentação pertinente e do patrimônio histórico e artístico é a Diretoria o Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM). No intuito de promover estudos e pesquisas, sobre assuntos concernentes à história da Marinha e à cultura naval em geral, mantendo o registro desta história, a Marinha iniciou as atividades de registro da memória no século XX, através de gravações de conteúdo variado, sendo que as primeiras foram realizadas na década de 70, estendendo-se até início dos anos 90. Nesta fase, encontramos aproximadamente 300 gravações entre fitas de rolo e fitas K7, com depoimentos de importantes autoridades navais e gravações dos eventos concernentes à divulgação da História Naval Brasileira. Foi no final dos anos 90, que esta atividade ganhou escopo e formou-se uma equipe que obteve treinamento no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. Desde então se criou o Projeto Memória em 1998, que, em última análise, tem o objetivo de elaborar o registro da História Naval Brasileira, englobando a história administrativa e operativa da Marinha, dos seus navios, estabelecimentos, biografias e dos Corpos e Quadros da Instituição. O conteúdo deste programa baseia-se em depoimentos individuais, enfocando a história de vida dos militares envolvidos direta ou indiretamente nos respectivos temas, contando atualmente com depoimentos de mais de 70 colaboradores. O presente trabalho busca traçar a trajetória da História Oral na Marinha do Brasil, possibilitando divulgar a historiadores, pesquisadores e estudantes o rico acervo que poderá contribuir sobremaneira para a divulgação da História Naval Brasileira.

 

HISTÓRIA ORAL DE VIDA COM POLICIAIS MILITARES GREVISTAS

JUNIELE RABÊLO DE ALMEIDA (Pesquisadora do Núcleo de Estudos em História Oral / NEHO-USP).

Resumo: Em conformidade com os pressupostos da história oral, procura-se empreender reflexões a partir de entrevistas com policiais militares [colônia] que participaram do ciclo de protestos nacional ocorrido no primeiro semestre do ano de 1997 [comunidade de destino] em doze estados brasileiros [redes]. Foram transcriadas 28 narrativas de lideranças e manifestantes dos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Tais narrativas apontam questões para o estudo do repertório da ação coletiva dos policiais militares, em um instigante diálogo entre as especificidades regionais e uma cultura policial militar nacionalmente constituída. A dificuldade de se compatibilizar o princípio da igualdade e o direito de participação, inerentes à democracia, com a especificidade de uma categoria inserida em uma organização rígida, possibilitou a emergência de movimentos grevistas no seio da corporação policial militar no ano de 1997. As manifestações na esfera pública nacional apontaram um novo repertório da ação coletiva policial militar, promovendo o relacionamento dos princípios democráticos com a estrutura de uma corporação marcada por preceitos disciplinares e hierárquicos.